Quaresma, Páscoa e Superabundância Divina
- ocatecumeno
- 19 de mar. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 16 de out. de 2024
A quaresma foi oficialmente instituída pela Igreja no século IV. Todavia antes mesmo dessa data o cristão com caridade, jejum e oração se preparava para a mais importante de todas as celebrações: a Páscoa. Neste período de quarenta dias a começar pela quarta feira de cinzas buscamos crescer no seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em seus primórdios a Igreja realizava uma grande catequese nesses quarenta dias , período no qual os catecúmenos (novos na fé) e irmãos que haviam cometidos pecados graves pela penitência, oração, jejum e estudo da Palavra de Deus renovavam a fé e recebiam o batismo ou eram reintegrados para a comunhão da Eucaristia junto à comunidade no Sábado Santo. Ainda hoje, no Brasil, temos o costume de batizar catecúmenos no Sábado Santo. Inclusive na comunidade passionista a qual faço parte. Uma tradição que é realidade desde a Igreja primitiva.
O número 40 está relacionado com preparação, conversão, busca determinada em amar a Deus. Nas Escrituras vemos diversas referências “quaresmais” como: 40 anos do povo de Israel no deserto saindo do Egito para chegar a Terra Prometida; 40 dias de Moisés no Monte Sinai; 40 anos de reinado de Davi; 40 dias de Cristo jejuando e sendo tentado no deserto; entre outros. A Igreja nos apresenta na primeira semana da quaresma a leitura do livro de Jonas, no qual o povo da cidade de Nínive é chamado ao arrependimento de seus pecados, prontamente este povo juntamente com seu rei se lança de joelhos cobrindo a cabeça de cinzas em ato de penitência e súplica, se arrependem de seus maus caminhos e clamam pelo perdão divino. Por este motivo também utilizamos as cinzas na Quarta Feira de Cinzas como sinal de nosso desejo de conversão. Há uma oração antiquíssima realizada neste dia pela Igreja: “Deus eterno e todo-poderoso, que destes aos ninivitas, por fazerem penitência na cinza e no cilício, os remédios de vossa indulgência: concedei-nos, propício, imitá-los de tal modo na mortificação, que alcancemos como eles o vosso perdão. Por Nosso Senhor Jesus Cristo.”
Buscamos alcançar a ordenança de nosso Mestre em Mateus 5.48 “Sede perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celeste.” E por mais que lutemos por este objetivo, nossa miséria próximo a Ele é gritante. Parafraseando Bento XVI no livro Introdução ao Cristianismo “o estado de perfeição é, na realidade, a confirmação dramática da imperfeição permanente do ser humano.” Recebemos tudo como dom gratuito de Deus, pois somos incapazes de realizar algo por si mesmo. Ainda assim Cristo nos instiga no sermão da montanha em praticar a obediência dos dez mandamentos em um nível muito superior dos fariseus e escribas Mateus 5.20 “Se a vossa justiça não ultrapassar a justiça dos escribas e dos fariseus, de modo algum entrareis no Reino dos Céus.” Se segue no mesmo capítulo de Mateus nos versículos 21 a 48 to o sermão no qual a princípio a grande parte da humanidade se via como justa, especialmente se tratando de não matar, não cometer adultério e não dar falso testemunho. Mas neste sermão Jesus nos mostra todo o alcance dessas exigências e vemos o quanto estamos envolvidos pela injustiça do mundo, apesar de a princípio parecermos justos. Quem poderá cumprir exigências como não odiar ninguém, não se irar, não desejar o corpo de alguém que não seja seu cônjuge, não mentir ou fofocar sobre alguém, não enganar, não desejar o bem que não é seu. E ainda mais além, quem poderá cumprir toda a lei neste grau, que nada mais é do que o AMOR. Essa é a verdadeira extensão da lei de Deus dada a nós e para nós: AMAR. E qual é a exigência do amor? Qual é a medida do amor? Amar sem medidas.
São Paulo muito nos fala em suas cartas, isto é a superabundância divina que transborda em tudo o que faz. Utilizando termos poéticos, Deus é como um artista que não se cansa de colocar cores e traços em seus quadros, como uma criança que o tempo todo sonha e nunca se cansa de brincar, como um pelicano que se doa por inteiro aos seus filhotes, um apaixonado extremamente exagerado que tudo faz por sua esposa. Ainda assim, não consegui mensurar sua superabundância em amar. Pela incapacidade humana em se redimir após sua queda no pecado no Jardim do Éden, a Santíssima Trindade coloca em prática o plano salvífico que seria superabundantemente maior do que a obra da criação do universo e tudo o que veio à existência. É gerado no ventre de uma Virgem o próprio Deus, Eterno, na pessoa de Cristo, encarnou como homem, assumindo a natureza humana juntamente com sua natureza divina (união hipostática) e sendo homem amou em superabundância até a morte de Cruz em lugar de toda humanidade remindo todo aquele que o ama em todo espaço-tempo. Ora, Nosso Senhor ultrapassou em muito a necessidade das exigências de amar, Deus engrandeceu em muito a redenção em comparação com a criação, a perfeição do por vir é incalculavelmente maior que a do presente. Deus não faz cálculos, Ele simplesmente transborda em tudo o que faz.
É o próprio Deus, que demonstra uma vontade inabalável de salvar Nínive. Tal como faz hoje conosco, nos convidando na Quaresma para a conversão, para o amor. É Ele quem primeiro se achega ao homem, é Ele quem envia o profeta Jonas, é Ele quem vai de encontro ao pecador e lhe oferece seu amor e perdão. Vemos essa realidade desde o princípio, na criação. Não “satisfeito” em criar tudo tão belo a Santíssima Trindade, suficiente em si mesma sem de absolutamente nada necessitar, cria anjos e seres humanos para se doar a eles. Para os amar e por eles ser amado voluntariamente. Auxiliados por Cristo, somos cobertos por sua divina justiça e nEle se faz possível nossa perfeição e santidade. Ele é a justiça divina que ultrapassa de longe o necessário e ultrapassa infinitamente o fracasso humano em amar Novamente parafraseando Bento XVI: Confiemos e nos apeguemos a “superabundância divina que se chama Jesus Cristo”, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo e que nesta quaresma nos mostra sua paixão na cruz que culmina na Páscoa e nos faz um com Ele. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, para sempre! Salve Maria Imaculada.
São José, rogai por nós
Feliz Páscoa!
“O Deus que nos criou sem a nossa ajuda não a dispensa para nos salvar” Santo Agostinho
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